segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Kadafi e a hipocrisia do Ocidente

Tradução de http://www.jornada.unam.mx/2011/10/21/edito

O assassinato de Muammar Kadafi, perpetrado em sua cidade natal Sirte, marca o triunfo da revolta que durou oito meses na Líbia e que foi invalidada logo após o seu início por uma intervenção militar maciça pelas potências ocidentais no país norte africano.

O que teria sido uma insurreição popular democratizadora foi convertida em um ataque saqueador neocolonial, incentivado pela ambição dos EUA e Europa por vastos recursos energéticos do território sírio, um novo mercado de armas e, presumivelmente, com ampla oportunidade de negócios de reconstrução, como as realizadas após a invasão e destruição do Iraque, cujos contratos beneficiaram empresas e consultores em meio-ambiente do ex-presidente George W. Bush.

Por outro lado, esperemos ver se o Conselho Nacional de Transição (CNT) será capaz de reconstruir a Líbia, para governar com legalidade, moderação e soberania, e de realizar mudanças reais no país.

Em outro sentido, a exposição do cadáver do antigo homem-forte da Líbia na mídia ocidental, bem como a omissão de sua morte e a de muitos de seus homens próximos como homicídio injustificável, mostra uma vez mais a dupla moral das democracias ocidentais, que continuam a fazer negócios lucrativos com déspotas no mundo árabe não menos execráveis que Kadafi, como os monarcas do petróleo de Marrocos, Arábia Saudita e os emirados do Golfo Pérsico.

Além disso, ao comemorar o evento, os EUA e a Europa ignoram o fato de que, até menos de um ano, Kadafi foi recebido calorosamente por Barack Obama, José Luis Rodríguez Zapatero, Nicolas Sarkozy e Silvio Berlusconi, e há sinais de financiamento de campanhas políticas dos dois últimos pelo regime deposto.

Com tais antecedentes, fica claro que o fim da era Kadafi na intervinda nação Magreb não é necessariamente um passo em direção à paz, a democracia e ao desenvolvimento da Líbia. Por enquanto, o assassinato do dirigente é uma expressão da barbárie e da hipocrisia.

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